terça-feira, março 25, 2008

Lisboa escrita (I)

Atravessei uma insónia há procura de um início de um livro. E por entre a noite pensei que o fim de uma história é normalmente um bom começo de uma outra:

“As ruas de Lisboa ecoavam o teu nome. Não digo isto como uma expressão metafórica ou como sinal de um caso patológico de esquizofrenia. Num acto de quixotesca loucura tinha-o espalhado pelos vários recantos da urbe inanimada, nas paredes, portões, postes e carros abandonados (tentei pintar um gato vadio mas este refugiou-se debaixo de um carro). Não conseguia escapar-me do teu nome entre as ruas da cidade, descobrindo-o mesmo em anagramas nos placares de publicidade ou em frases de ordem pintadas nos muros e tapumes. O que separa a paixão da obsessão, pois que toda a cidade escrita me parecia desembocar no teu nome? Fechei-me em casa. Repetia mentalmente mil vezes o teu nome, na ânsia de que deixasse de fazer sentido, quando tive uma visita inesperada…”

segunda-feira, março 17, 2008

Ficção

Num baile de máscaras uma mulher aproxima-se do inevitável bar, sítio mais recondido da folia. Pede um copo de vinho e dirige-me a palavra: sabia que a palavra pessoa vem de persona que também significa máscara?

Desconhecia. É um pormenor interessante, digo com os olhos postos na minha bebida.

Não meu caro, não é um simples pormenor, diz-me com uma voz rouca. Imagina o mesmo que eu, neste ambiente? Confesso-lhe o seguinte, e dirige-se ao meu ouvido: estou quente…

Vêm-me à mente a imagem cinematográfica de pessoas a despirem e a tocarem-se em pulsões sem memória, deixando contudo o mistério das máscaras.

A mulher incógnita interrompe-me o devaneio: ténue fronteira entre ficção e realidade. Não, não é o sonho que comanda a vida é a ficção.

Um pingo de vinho cai-lhe nos seios, e ali fixei o meu olhar. Pergunta-me, ímpia, se gostaria de lamber. Contorço-me e procuro dar uma resposta evasiva: porque não?

Que raio de resposta: sim ou não?, pergunta-me firme.

Desamparado, rendendo-me à excitação, respondi sem rodeios, Sim.

Senti a liberdade de colocar-lhe a mão na perna, fui subindo por baixo do seu vestido rubro e verifiquei que não trazia roupa interior. Apenas coberta com um fino vestido de seda e a máscara. Sugeri encaminharmo-nos para um local mais privado. Animalesco, desapertei as calças e penetrei-a por trás, sentindo o seu húmido calor interior. Por curiosidade, num gesto impulsivo e impetuoso, arranquei-lhe a máscara e, horrorizado, não encontrei nem uma mulher bonita nem feia. Encontrei o nada.

sexta-feira, março 14, 2008

10 valores

Um professor meu, particularmente exigente, uma vez disse que não há nota mais bela que um 10, um número redondo. Esta opinião recebeu, obviamente, os protestos da turma. Então e o 20? Também é um número redondo. Ora, o 20 é a nota da perfeição e portanto pertence à esfera do inatingível. 20 é para Deus. O 19 é nota que aquele professor guardava para si e o 18 é para os génios. O 10, seguiu argumentando, é o único número redondo que se deverá almejar. É belo porque é o fiel da balança entre o saber e o não saber. Limite máximo da ignorância e limite mínimo do conhecimento, harmonia Zen da sabedoria. É o ponto ganho pela bola de ping-pong que embate na rede e por momentos gera a suspensão entre cair num ou noutro lado da mesa. Pensando nisto, que nota dou, portanto, à minha vida, experiência e conhecimento? 10 valores, isto sem querer passar por pessimista.

Uma frase que achei interessante: Se acham que já fizeram muita merda, pensem que andaram a adubar a vida!

quarta-feira, março 12, 2008

Sexo, Cabras e Rock’N’Roll

No hilariante filme de Woody Allen, “ABC do Amor”, Gene Wilder aparece a fumar um cigarro pós-coito com a sua amante, uma ovelha. Relembro outro filme onde um casal discute as orientações sexuais num mundo sem homens ou sem mulheres. Pergunta o homem: Se não existissem homens no mundo, farias sexo com outra mulher? Ao que a esposa responde: Porque não? E tu, se não existem mulheres, farias sexo com outro homem? Não… talvez arranjasse uma boa cabra.

Pensando bem até poderá ser uma boa escolha, embora não se possa esperar grande ajuda nas tarefas domésticas ou grandes conversas nos momentos após o coito.

Longe da ficção e na realidade bem concreta, um homem no Sudão foi obrigado a casar com uma cabra. A história é a seguinte: O homem foi apanhado a fazer sexo com uma cabra pelo dono desta. O dono da cabra em vez de o levar à justiça levou-o a um conselho de Ansiães que decretou que o famigerado (...ou não) adepto do sexo zoófilo pagasse pela cabra ao respectivo dono e casasse com ela. Será isto "the beginning of a beautiful frienship"? Como diria Fernando Pessa: E esta ein?

Aqui está a hiperligação para a notícia na BBC News:

http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/africa/4748292.stm

sexta-feira, março 07, 2008

Despertar do Inverno



Fotografado e filmado em Cambridge, UK

segunda-feira, março 03, 2008

Cinzento

À Li.

Muito stressada com o trabalho?

Não sei muito bem. Esta noite calhou-me uma médica que não sabia fazer reanimação.

Ela não conseguiu reanimar um doente?

Ninguém iria conseguir...mas podia ter feito mais qualquer coisa... Sabias que aqui na nacional passam mais automóveis cinzentos que de qualquer outra cor?

Nunca foi coisa que reparasse.

7 cinzentos, um branco e um vermelho, no sentido do carregado neste momento... o céu está cinzento, porquê que as nuvens não caem se estão carregadas de água?

Elas caem... em forma de gotas.

E ainda bem, podia ser pior, podia ser em jactos... uma grande torneira, é assim que imagino o dilúvio.