sexta-feira, janeiro 25, 2008

Teoria do caos

Que escreves?, pergunto enquanto te olho estendida na cama sobre um caderno. Poesia, respondes de soslaio com o teu sorriso. Acerco-me tentando vislumbrar o que escrevinhas. Tiras o caderno do meu campo de visão com o teu corpo, como se escondesses uma cria do predador. Não podes ver!, nunca irias perceber o que está escrito, dizes prepotente. És um cientista, racional, objectivo, preso às velhas regras da lógica. Viras-te para mim e apertas o caderno contra o teu peito. O meu projecto, dizes-me, é descobrir a beleza numa junção improvável de umas quantas palavras feias e invulgares. Estabelecer relações insuspeitas entre palavras, ideias ou acontecimentos que descobri por uma invulgar pincelada da mente. Dás pequenas risadas e lanças-me o teu olhar aguado, vítreo e intenso como se reflectisse todas as possibilidades infinitas. Quero encontrar através da poesia relações, causas e efeitos improváveis que uma vez expostos se impõem ao sentimento com a força de uma lei da natureza. Quero descobrir que o bater de asas de uma borboleta pode realmente explodir um planeta.