domingo, novembro 18, 2007

Nascer duas vezes

O meu pai tem dois aniversários. Um dia 9 de Dezembro e outro dia 11 do mesmo mês. Na realidade ele nasceu a dia 9 mas o seu nascimento foi apenas registado dia 11 e para evitar uma multa assim ficou como data oficial. O que é curioso, é que sempre que lhe dou os parabéns dia 9 ele recusa-os: o que conta, diz-me, é o que está no bilhete de identidade. Esta postura sempre me causou confusão mas pensando bem ele tem a sua razão. Para todos os efeitos aquilo que ficam são os registos oficiais de morte e nascimento que desprezam e recusam qualquer outra experiência vivida. Não fica nenhum registo de como os meus avós se sentiram quando o meu pai nasceu, se o parto foi longo, se estava muito frio naquela noite de Dezembro, se havia mais pessoas presentes, se o meu avó festejou o acontecimento com um belo copo de aguardente ou se brindou com o resto da aldeia. Este esquecimento, este apagar de borracha imposto pelos registos oficiais e pelo decurso da grande História talvez seja o que explica a obsessão de certas pessoas pelas fotografias, pelos vídeos, pela escrita nos diários, pelos recortes de jornais, pelos blogues, pela colecção avulsa de objectos sentimentais. São estes pequenos gestos de recolha que têm a tarefa hercúlea de navegar contra o tsunami incomensurável do esquecimento que varre todas as experiências únicas e pessoais, vividas e sentidas no concreto. Mas o meu pai demonstra uma estranha resignação, a resignação de que quando perecemos pouco mais resta do que os registos no cartório e na lápide. Talvez seja a resignação de alguém que vê num aniversário pouco mais que um marcar passo do oblívio ou alguém que vê numa festa de aniversário uma vã tentativa de esquecer o esquecimento. Talvez caiba a mim pegar um dia nos seus objectos, nas suas fotografias, nas suas notas e nas memórias que eu próprio vou guardando dele e escrever-lhe, tanto quanto possível, a história, não a dos factos mas a vivida, que também é a minha.

sábado, novembro 03, 2007

O beto nacionalista

Pretos do C$%&#$, ucranianos da m#$%$, andam para aqui a roubar o trabalho aos portugueses. Por vossa causa não consegui um trabalho nas obras e não tive outro remédio se não ir para o Técnico tirar um curso superior…