sexta-feira, julho 13, 2007

Sitcom

Ben entra (aplausos, vivas). Finalmente o ca... (piiiiii) do velho resolveu bater as botas (risos). Ainda me lembro das vezes que tive que ficar aqui com ele sozinho a mudar-lhe as fraldas. Como os putos, ó caneco. Se a vida não anda em círculos... (risos). Raio do velho incontinente, chato como à potassa: (Flashback) “Bennnn, a dentadura caiu-se na pia. Outra vez?! (risos)” (Fim do flashback). “Caiu-se na pia...”, tsk. Como se ele não fosse um velho desajeitado e a dentadura lhe saltasse da boca para dentro da pia por sua livre e espontânea vontade (risos). Betty entra (aplausos, vivas). Buuahhhhhh, o meu paizinho, o meu Daddy, bbuuahhhh. Sniff Sniff. Assoa-se a um lenço. Os homenzinhos da funerária já estiveram aqui, Ben. Deram-me cá uns arrepios. Um deles era mesmo estranho, aposto que pratica actos de necrofilia (risos). Bom já está tudo tratado, o funeral é amanhã... (fade out).
Ben, Ben, grita Betty com a voz esganiçada. Que foi agora?, pergunta Ben chateado por interromper a leitura do jornal desportivo...
O Daddy tem pulso?! Como é que o Daddy tem pulso se está MORTO (risos). E não me tinhas dito que já está tudo tratado? Estás a imaginar coisas. Sério, ele tem pulso, vem cá ver. Ben toma o pulso a Daddy: Eh pá, raio do velho, não é que parece que tem mesmo pulso. Ben, não trates assim o Daddy. Bom, vou já chamar a Fanny.
Betty reentra no quarto de Daddy com a irmã Fanny (aplausos, vivas). oohhh Daddy, chora Fanny, não viveu o suficiente para me ver casar. Casar?! Tu?! Quem é que iria para a cama com um paquiderme como tu?, pergunta Ben, só se o Daddy pagasse a algum gajo um salário mensal chorudo, mas com a miséria de pensão que ele tinha... nem dava para as fraldas (risos). Bennnn, Betty dá-lhe uma palmada. Deixa estar Betty. Não preciso de homens como tu Ben, o meu dildo chega-me bem (risos). Fannyyy?!, exclama Betty. Bom Fanny, eu e o Ben sentimos o pulso ao Daddy. Não pode ser. Como pode ser Betty, se já está tudo tratado? Mas sentimos-lhe o pulso, Fanny. Vê por ti própria. Sentes alguma coisa? Nãaoooo... pera aí... Sim... estou a sentir alguma coisa. Vês, vês Ben, algo se passa. Teddy, filho, vem cá, depressa. Entra Teddy desconfortável (aplausos). Vem sentir o pulso ao vovó. Para quê? Ele parece morto que nem uma pedra. Além disso, já não está tudo tratado? É o teu avó, faz-lhe esse último favor, e lembra-te que ele gostava muito de ti. Claro, claro, tinha cá uma maneira de o mostrar, sempre a dar-me com a bengala na cabeça enquanto me chamava esgrouviado (risos). VÁ LÁ, dizem Ben e Betty em uníssono. Eu não vou tocar-lhe, nem pensar, diz Teddy repugnado, ainda posso apanhar uma doença ou alguma coisa do género. Ben: os mortos não apanham doenças idiota (risos).
Uuhhhhhh uhhhhhh oláaaaaaaa, a vizinha Trisha entra (aplausos). Não é um bocadinho inconveniente estarem todos aqui no quarto enquanto o Daddy dorme a sesta? O Daddy faleceu esta manhã, Trisha, buaaahhh. Ohhhh meu Deus, Betty... Então é por isso que ele está deitado de fato e gravata. Duuuhhh, diz Ben (risos).
Betty: Trisha, vê se consegues sentir o pulso do Daddy. Trisha: eu pensava que os mortos não tinham pulso. Vocês estão a tentar ver se ele está em forma para a vida depois da morte? Ben: Trisha, o que é tu foste na tua vida anterior? uma galinha? Sinceramente, acho que Deus ou o Buda ou lá o que é se esqueceu de trocar os cérebros à nascença. Bennnnnn, Betty volta a dar-lhe uma palmada. Trisha: Ohhhh, meu Deus, Betty, acho que tens razão... estou a sentir qualquer coisa... E o pior de tudo Trisha é que já está tudo tratado (risos).
Betty grita mais uma vez: Ruffy?! Ruffy anda cá, vem sentir o pulso ao Daddy. Ben: o Ruffy consegue lá sentir o pulso das pessoas. Ele é um cão, valha-me Deus (risos). Ohhh Ben, sabes bem que o Ruffy adora o Daddy. Se ele sentir alguma coisa ele vai ladrar, não é fofinho? (Ruffy lambe a boca da dona). Auf, Auf. Vês ele está a sentir alguma coisa. Algo se passa aqui, temos de telefonar já para um número de emergência.
A família inteira encosta-se ao telefone: Dói, Dói , Trim, Trim, Boa tarde. Responde Betty: Alô?! O meu paizinho faleceu e... Faleceu? Oiça, isto é uma linha de emergência... para os vivos... (risos). Betty: Mas ele está com pulso... E ainda por cima com tudo tratado (risos). Responde a operadora: O seu pai? Está morto? E tem pulso? Oiça, esta linha é demasiado preciosa para se perder tempo com brincadeiras (risos). Não desligue, isto não é brincadeira nenhuma. Operadora a perder a paciência: bom, olhe, mesmo que não seja uma brincadeira, eu nem devia estar a atendê-la, isto é uma linha de emergência PEDIÁTRICA (risos), é o que diz nas páginas amarelas. Talvez seja melhor telefonar para outro número de emergência. Grita Betty: mas isto é uma emergência bolas. Oiça, tenha calma. O que pode ter acontecido é que a senhora tenha sentido o seu próprio pulso, é o cenário mais plausível. Mas, toda a gente cá em casa viu com os próprios olhos que a terra há-de comer que o paizinho tem pulso, até o Ruffy sentiu-lhe o pulso, não foi querido? Auf, Auf. Mas o médico já não foi aí a casa verificar o óbito do seu pai? Sim, o médico já cá veio e passou a certificação de óbito. Cá entre nós, pareceu-me cheirar um bocadinho a álcool (risos). Ben acotovela a mulher: Diz-lhe que já está tudo tratado. Os homens da agência funerária também já cá vieram. Gente muito esquisita, sabe como é. Já está tudo TRATADO, minha senhora (risos). Operadora: mas se acha que o seu pai tem pulso, não seria melhor chamar outra vez o médico para confirmar? Ó minha senhora, como é que me diz para chamar o médico outra vez? Agora?! quando já está tudo tratado?! (risos, gargalhadas, aplausos, vivas, cheers, a moche, a loucura) (Créditos finais).

P.S.: Baseado em acontecimentos verídicos passados em Portugal.

3 Comments:

Blogger blindness said...

:D

Fez-me lembrar de um programa que a SIC tinha com o Camacho Costa, cujo nome não me recorda, mas que era com uma família parecida com esta. Espero que a veracidade desta estória que aqui contas se resuma ao facto de ser inspirada numa série ficcional deste tipo. Era deveras estranho que assim não fosse, mas, "como diz o outro", «a vida imita a arte» n'est-ce pas? ;D

11:46 da tarde  
Blogger NoSurprises said...

Precisamente!!! Fez-me muito lembrar a tal sitcom com o Camacho Costa. Ve-se que o menino tem jeito para escrever teatro ou revista....Nesta familia surreal onde se perde um ente querido (ou não) o que parece importar nem é tanto a perda pois já está tudo tratado. LOOL

11:47 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Charades, pop skill
Water hyacinth, named by a poet
Imitation of life.
Like a koi in a frozen pond.
Like a goldfish in a bowl.
I don't want to hear you cry.

Thats sugarcane that tasted good.
Thats cinnamon, thats Hollywood.
C'mon, c'mon no one can see you try.

You want the greatest thing
The greatest thing since bread came sliced.
You've got it all, you've got it sized.
Like a Friday fashion show teenager
Freezing in the corner
Trying to look like you don't try.

Thats sugarcane that tasted good.
Thats cinnamon, thats Hollywood.
C'mon, c'mon no one can see you try.

No one can see you cry.

That sugar cane that tasted good.
That freezing rain, that's what you could.
C'mon, c'mon on no one can see you cry.

This sugarcane
This lemonade
This hurricane, I'm not afraid.
C'mon, c'mon no one can see you cry.

This lightning storm
This tidal wave
This avalanche, I'm not afraid.
C'mon, c'mon no one can see me cry.

That sugar cane that tasted good.
That's who you are, that's what you could.
C'mon, c'mon on no one can see you cry.

That sugar cane that tasted good.
That's who you are, that's what you could.
C'mon, c'mon on no one can see you cry.

Porque cada um de nós representa o personagem que escolheu (ou talvez não) até ao cair do pano deste eterno palco...

1:28 da manhã  

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