sábado, julho 07, 2007

Impressões

O meu velho costumava dizer que os grandes homens (ele não referia mulheres, têm de o desculpar mas ele fazia ainda parte da sociedade patriarcal) são aqueles que causam impressões duradouras nas pessoas. Eu era apenas um puto e não tinha capacidade reflectiva para questionar essa noção. Hitler e Stalin foram grandes homens? Bom causaram sem dúvida grandes impressões. E de certa forma, para o bem e para o mal, foram considerados grandes homens para uns e grandes monstros para outros. Mas afinal onde estará a fronteira entre os dois? Sempre pensei em ser um grande homem, pensei que estava pré-destinado a ser um no futuro. Mas actualmente sou apenas um simples homem com um emprego nos serviços, nada de impressionável. Das pessoas que encontramos quantas nos marcam, de quais lembramos os contornos das suas faces? E das pessoas com quem lido diariamente em quantas causei alguma espécie de impressão? Nunca desisti de causar impressões nas pessoas. E esse é o meu ego sombra. Já perdi a conta das pessoas que persegui, assaltei e raptei. Não me lembro de muitas caras mas de certo que não esqueceram a minha. Entro nos seus carros na calada da noite, finjo que sou alguém a necessitar de ajuda na beira da estrada ou dou boleia a pessoas com necessidade e dou-lhes a boleia das suas vidas. Com a minha arma de fogo consigo com que as pessoas façam coisas que nunca fariam nas suas vidas comuns. A perspectiva da morte consegue muitas coisas. Faço-lhes perguntas pessoais, vasculho os seus objectos íntimos, as suas malas, as suas carteiras. Bom, nunca magoei alguém a sério se é o que estão a pensar, fisicamente pelo menos. Todas as pessoas ficam a pensar que sou um assassino em série ou algo do género. Sim já espanquei, amarrei pessoas de pernas para o ar, reguei com gasolina, já obriguei pessoas a chuparem o cano da minha pistola. Mas nunca matei ninguém. Até sou um tipo pacífico. Ok, também já fiz um corte com uma navalha no rosto de uma gaja: queria ser modelo, como se esse fosse um objectivo útil, como se ser modelo promovesse qualquer tipo de crescimento pessoal, é tão superficial. Deixei-lhe uma cicatriz e eu até acho que foi algo libertador para ela. Também já penetrei o gajo com o cabo de uma vassoura no cú, tudo o que o gajo queria saber era se eu era gay e se o ia violar e não parava de repetir a pergunta. Mata-me à vontade mas não me violes o cú, meu Deus, que patético. Sinceramente, tenho a impressão que era o que o gajo realmente queria. Retraído de merda. Apesar de tudo, no final todas aquelas pessoas que rapto ficam felizes por estar vivas. Se não ficam é porque são patéticas e não merecem a vida que têm. Tudo o que vejo, em todo o lado, é este lamentar nas pessoas. O que é certo é que eu farei sempre parte daquelas vidas. É tudo uma questão de impressões duradouras.

5 Comments:

Blogger blindness said...

As tuas "impressões" fizeram-me lembrar uma panóplia de referências cinematográficas que abordam este "tema" de forma mais ou menos objectiva. Desde a trilogia do "Saw", passando pelo "Crash" (versão 2004, de Paul Haggis) ou pelos filmes da MARVEL (afinal, os heróis e os anti-heróis ou arqui-vilões são sempre personagens que marcam a existência colectiva das suas estórias), a impressão de uma "marca" na vida de outrém será porventura um desejo colectivo (social?) bastante vincado na indústria cinematográfica (e talvez por isso o seja nas sociedades contemporâneas), juntamente (parece-me...) com a frustração inerente ao facto de nem sempre sermos capazes de executar tal gesto, ou dele ser bem menos durador do que poderíamos supôr. Alguém que o faça da maneira "romanceada" que descreves terá resultados mais contundentes... Mas serão, na "vida real", igualmente eficazes? Para não mencionar desejáveis...

Abraços. ;)

10:23 da tarde  
Blogger NoSurprises said...

Também me transportaste muito para o ambiente da triologia Saw, em que o que está em causa também é "acordar" as pessoas para a vida e dar-lhes uma 2ª oportunidade. Contudo prefiro a primeira parte do texto:
De uma forma ou outra somos todos grandes homens, não tanto pela impressão que causamos nos outros mas pelo facto de não nos envergonharmos de nós próprios. Há muita gente que nos marca a vida e nos tolda as impressões, são pessoas que nos ajudam a construirmo-nos enquanto seres humanos e devemos a eles parte do nosso desenvolvimento enquanto seres humanos civicos, não tanto grandes ícones da história mas pessoas simples que nos habitam o quotidiano.Esse são aqueles que nos dão grandes lições de vida. Por outro lado nunca desistas de causar impressões nos outros porque podes bem fazer a diferença na vida de algué

Mto bom texto

Abraço

10:38 da manhã  
Blogger laeienda said...

Gosto muito do personagem do FightClub, impresionante sombra da morte que aproxima-se a esa gente que ha muito tempo que näo se-lembra do significado da expressaäo "näo sermos inmortais para sempre"; mas só é uma sombra, um personagem un tanto secundario. Eu considero mais grande ao homem (ou a mulher) que sabe isto e o practica na sua vida. Näo poderia encontrar ninguem mais admiravel do que é quien "vive" a sua existência (ainda, seja esta dedicada a fazer que a gente näo seja capaz de esquecer sua mortalidade).
Felicidades por o teu texto.
:)

11:39 da tarde  
Blogger passarola said...

e deixas mesmo uma impressão forte! muito bom texto! parabéns! :)

10:41 da tarde  
Blogger faceless said...

Não me inspirei nas vossas referências cinematográficas. Do Saw só vi o 1º filme e realmente não me lembrei dele na escrita. Assim como o Fight Club que é mencionado por Iaeienda. Mas percebo as referências. De facto, muitos de nós precisam às vezes de levar marteladas na cabeça. Faz-me lembrar a personagem John Doe de Sev7n que dizia que hoje em dia não basta uma palmada nas pessoas, é preciso uma martelada na cabeça. Mas descansem não sou tão drástico, prefiro as marteladas metafóricas. Seja como for, a minha inspiração mais directa foi um episódio da série "Sete Palmos de Terra". E aqui relembro a mensagem da série: não importa o como ou quando morremos, importa sim o que fazemos desta vida. Beijos e abraços

8:27 da tarde  

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