quinta-feira, abril 05, 2007

Silêncio

No café desenhava os teus lábios a fumar fugazmente um cigarro. Em nenhum dia em particular disseste-me que a ti os quatros elementos nada significavam, só o fumo te era importante e mais verdadeiro. A par do fumo, o teu silêncio pairava suspenso entre o sussurrar do mundo em volta, conversas soltas, loiça a tilintar, o folhear dos jornais que perpassam os dedos domingueiros, o murmurar da cidade distante. Perguntei-te, em que pensas? Nada em particular. Na tua casa colocaste na aparelhagem de som um CD de John Cage. Encontraste os meus olhos, quero que ouças isto. A contagem dos primeiros segundos da música avançava no mostrador da aparelhagem… silêncio… Sentámos prostrados no sofá lado a lado. Quando começa a música? Shhhhhh. Coloquei a minha mão entre as tuas pernas. Senti a pele macia das tuas coxas por baixo da saia. Desviaste firmemente a minha mão. O coração batia, os nervos e as veias palpitavam. 4 minutos e 33 segundos e nada, nenhum som se escapou da aparelhagem. Apenas o meu corpo gritou por dentro. O silêncio é uma quimera, uma utopia…

7 Comments:

Blogger Patrícia Evans said...

Mais dificil é silenciar o silêncio...

12:38 da tarde  
Blogger Susana M Fonseca said...

Este comentário foi removido pelo autor.

2:05 da tarde  
Blogger Susana M Fonseca said...

Este comentário foi removido pelo autor.

2:25 da tarde  
Blogger Susana M Fonseca said...

O silencio é o admirável momento do “tudo”, é a concessão do corpo, o apelo da alma. É o espaço vazio expectante que o preencham…é a permissão dos sentidos e sua consequente ascensão, onde os sentidos se fundem e se permitem experimentar…é um “tudo” que em nada é silencioso…
Mais do que silêncio! É o brado da alma que induz o corpo à acção, que perde a noção da realidade presente e se concilia com a realidade sensitiva. Aquele que da imobilidade do nada, recorre a um turbilhão (quantas vezes catastrófico) de libidinosas emoções dignas da edificação de castelos e cidades. Leva-nos à semi-inconsciência, onde vaga noção do espaço e do tempo é substituída pela a intensa percepção das emoções….
Não sei porque lhe chamam silêncio…

4:12 da tarde  
Blogger Sónia Miranda said...

O silêncio.. o pior dos nossos inimigos. Venham a mim todos os ruídos do mundo.. enquanto assim for consigo fugir de mim, dos meus fantastmas!

6:41 da tarde  
Blogger passarola said...

a turtura do silêncio!! e quando o silêncio que saía da aparelhagem, terminou? acabou o silêncio, voltou o ruído? Adorei essa imagem!! um bj

10:22 da tarde  
Blogger van cristjan said...

O silêncio deixa-me ileso... ou qualquer coisa assim, dizia uma canção. Como é que a aparente ausência de som pode estar tão carregada de... coisas, significados, entre-linhas... Daí poder suscitar sensações tão contraditórias como as expressas nestes comentários: de inimigo a exaltação do tudo.
Perdoem-me o pragmatismo mas no silêncio não se ouve nada, excepto a nossa respiração ou batimento cadíaco, mas sendo assim não é silêncio... O silêncio não existe: é metafísico!

11:31 da tarde  

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