segunda-feira, dezembro 11, 2006

Picasso

Picasso dizia que “a arte é a mentira que diz a verdade”. Esta noção, que já estava latente na pintura impressionista, tornou-se o elán vital que impulsionou os movimentos modernistas e vanguardistas como o cubismo, o dadaísmo ou surrealismo e que os dotou da sua autoridade cultural. Fica a aqui a minha estória favorita desse senhor:

Estava um distraído turista americano a deambular por um qualquer aeroporto europeu quando esbarrou contra um transeunte. Aquela face que se lhe entrepôs, encrespada de rugas como pinceladas anavalhadas pela seta do tempo, sugeria alguém familiar. Mas foram aqueles olhos pungentes como se esculpissem a realidade à sua volta que fez o americano perceber, perplexo, que tinha à sua frente Pablo Picasso. Sentindo-se afortunado pela colisão não deixou passar a oportunidade de solicitar a Picasso, com o ar chistoso de quem pede a um artista de rua para mostrar os seus dotes, que desenhasse o seu talento num pedaço de papel. Condescendente, o mestre estalou os dedos e em poucos segundos tingiu no papel providenciado a sua mentira. Sôfrego, aquela fera esfaimada com cara de turista atirou-se ao desenho de Picasso, mas este, tirando o rascunho do seu alcance com um gesto, exigiu nada menos que 10.000 dólares.
O americano bem protestou: está louco! Tanto dinheiro por rabiscos que demoraram segundos a fazer.
Meu amigo, retorquiu Picasso, este mero desenho durou cerca de sessenta anos a fazer. Momentos depois surripiava jovial o cheque das mãos meio convencidas do turista americano.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

é uma grande verdade! um rabisco de um picasso com 60 anos de trabalho, não é um rabisco de picasso acabado de nascer.. o turista não percebia nada de arte. 10.000 dólares foi uma quantia muito generosa para um rabisco de valor incalculável..

5:30 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

grande história! gostei muito!

5:31 da tarde  

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